Uma História de Amor

Considere o paralelo entre a história da Criação e a sua própria vida hoje, no mundo moderno. No começo, há apenas você. Para amar você precisa sair do centro e criar um espaço para um outro. O amor só começa quando isso é feito – você “sai do caminho” para dar espaço a outra pessoa em sua vida.

Em outras palavras, se você é egocêntrico, não está pronto para o amor. Se é egocêntrico, não consegue criar espaço suficiente para cuidar de outra pessoa. O amor verdadeiro não é somente criar esse espaço em sua vida para outra pessoa, mas também respeitá-lo e mantê-lo. É fazer parte e, ao mesmo tempo, manter afastado da vida de alguém.

E uma vez que você consiga se retirar do centro e criar um espaço para outra pessoa, precisa desenvolver uma sensibilidade apurada para perceber como o seu parceiro é especialmente diferente – como é outro. Quando nos apaixonamos por alguém , temos a tendência de notar o que temos em comum e de ignorar as diferenças; é isso que a expressão “o amor é cego” significa.

No entanto, o amor verdadeiro não é cego. Ele enxerga – enxerga as diferenças, as diversidades, o bom e o ruim. Sentir um amor verdadeiro é enxergar e, mesmo assim, amar.

Em hebraico, o verbo “ver” tem ligação direta com o verbo “respeitar”; ou seja, enxergar com os olhos do amor verdadeiro significa ver, aceitar e respeitar aqueles que amamos como realmente são, sem que projetemos neles nossos sonhos e nossas fantasias. Tudo isso é muito difícil, porque quase sempre tentamos “encaixar”aqueles que amamos em nossas visões do que é o amor. E, se não se “encaixam direito”, tentamos modificá-los.

Mas, se conseguimos ver não somente o que temos em comum com aqueles que amamos, como também o que nos diferencia, e se apreciamos e honramos essas diferenças, então podemos dar o próximo passo: a doação de nós mesmo aos nossos companheiros. Simultaneamente, devemos permitir que eles façam o mesmo. Assim, permitiremos que criem para nós um espaço na vida deles, que reconheçam e respeitem a nossa diversidade e que se dêem a nós.

É como abraçar. Para abraçar alguém, você cria um espaço com os braços para incluir quem abraça. Mas, é claro, isso deve ser feito de modo que a outra pessoa também possa abrir os braços para incluir você. Se o “dar”e o “receber” não acontecem simultaneamente, o relacionamento não funciona. Não é amor, é outra coisa; e essa “outra coisa”só cria desentendimento e infelicidade,e, eventualmente, o relacionamento termina.

Amar é dar-se à outra pessoa – assim nos diz a história cabalística. A Criação do Mundo foi um ato de amor. O rompimento dos recipientes representa a nossa incapacidade de receber a luz do amor de modo independente. E o conserto dos recipientes é o desafiante processo da reconstrução de nós mesmos por meio de relacionamentos, para que, juntos, possamos receber a Luz Infinita do amor, o presente de Hashem.

Agora encontramos a resposta da grande pergunta. Qual é o propósito da vida? É o amor. A essência da vida – o desígnio da vida – é o amor. Qual é a energia que move o mundo? O que nos guia e nos faz prosseguir na vida? A resposta é o amor.

No final das contas, todo mundo quer amar e ser amado. As letras das músicas populares sobre o amor dizem a verdade: “O amor faz o mundo girar”, “O amor é tudo de que você precisa”. Mas não é tão fácil; é bastante trabalhoso.

Na Cabalá e na Torá, os componentes do amor verdadeiro são bondade e justiça – e é muito difícil alcançar esses dois ideais. Bondade é a energia de si mesmo, é dizer “o que é meu é seu”, sem condições ou limitações. Justiça é o respeito que se tem por outra pessoa, pela sua individualidade, pela sua posição e por suas possessões: “O que é seu é seu”. Não é nenhuma espécie de negócio.

Não é de se surpreender que esses dois componentes fundamentais do amor – bondade e justiça – também estejam entre os princípios fundamentais de organização da Torá, o Livro da Vida. Quando agimos de acordo com o Livro da Vida, aprendemos os caminhos da bondade e da justiça, os caminhos do amor. Sendo assim, criamos um mundo em que se pode receber a dádiva do amor.

Do livro Luz Infinita
Rabino David Aaron
Editora: Sêfer

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