6 motivos para não ter medo da cirurgia de transplante de córnea

De acordo com um levantamento do New York Times, as pessoas consideram perder a visão como o que de pior pode acontecer em suas vidas. O medo da cegueira é maior, inclusive, do que o de perder um braço ou perna, perder a memória, audição, fala ou até mesmo possuir HIV/AIDS.

Foto Freepik

Existem várias doenças que podem levar à cegueira, incluindo aquelas que afetam a córnea. “A córnea é a principal lente do olho, responsável pela focalização da luz na retina. Quando existe uma imperfeição em sua forma ou transparência, pode-se ter um comprometimento da visão”, explica Bruno Trindade, oftalmologista do Instituto de Oftalmologia Cançado Trindade.

Um dos tratamentos possíveis para essas doenças é o transplante de córnea. Geralmente, é reservado para casos mais avançados de doenças como o ceratocone. De acordo com Bruno Trindade, hoje, com a possibilidade de estabilizar o ceratocone com o crosslinking e a introdução de lentes de contato especiais, a indicação de transplante de córnea para essa doença tem diminuído em todo o mundo.

Já em doenças que afetam a transparência da córnea, como a distrofia endotelial de Fuchs, modificações da técnica de transplante têm possibilitado a recuperação visual rápida e eficiente.

“Atualmente, somos capazes de realizar o transplante de córnea através de incisões minúsculas sem a necessidade de pontos. Isso permite uma cirurgia muito mais segura, com resultados visuais excelentes. Não é raro o paciente ter a visão completamente restabelecida após a primeira semana de cirurgia”, afirma o oftalmologista.

Entretanto, quando o transplante de córnea é indicado, é comum o aparecimento de dúvidas e receios. A seguir, Bruno Trindade esclarece pontos importantes sobre o transplante de córnea e explica por que não é preciso ter medo da cirurgia.

 

1.    O transplante de córnea é, de longe, o mais realizado e mais bem sucedido na prática médica

Ao contrário dos outros transplantes de órgãos e tecidos, a maioria dos pacientes não necessita ser submetida àimunossupressão (administração de medicamentospara evitar a rejeição ao órgão transplantado). Na maioria das vezes, colírios são utilizados em doses pequenas (geralmente por tempo limitado) para inibir qualquer reação imunológica de rejeição. “A córnea é um tecido avascular, isto é, não tem nenhum vaso sanguíneo em sua estrutura. Por isso, apresenta um privilégio imune: o tecido não é identificado como estranho pelo organismo do paciente que a recebe”, explica Bruno.

 

2.    A cirurgia só é feita após a realização de todos os exames pré-operatórios e esclarecidas todas as dúvidas

Antes da cirurgia, em consultas pré-operatórias, são feitos vários testes específicos para avaliar a necessidade do transplante de córnea. “Somente depois de esclarecidas todas as dúvidas, é feito o cadastro na fila geral de transplantes de órgãos e tecidos do estado”, informa Trindade. Uma vez disponibilizado o tecido, a cirurgia é agendada.

 

3.    A volta às atividades habituais geralmente ocorre após uma semana da cirurgia

“A recuperação é rápida e tranquila”, diz Bruno Trindade. Os efeitos colaterais pós-cirúrgicos costumam desaparecer por volta dos primeiros 7 a 10 dias. A maioria dos pacientes se queixa de irritação ou sensação leve de areia nos olhos, coceira e sensibilidade a luz. “Dor forte nos olhos não é comum após a cirurgia”, salienta.

 

4.    A melhora da visão pode ser rápida

A depender da técnica utilizada, da gravidade do quadro inicial e de outras doenças associadas, a melhora da visão pode acontecer na primeira semana após a cirurgia, comenta Bruno Trindade. Mas nem todo caso é assim, em algumas técnicas, o resultado visual final só é alcançado de seis a 12 meses após a cirurgia.

 

5.    As córneas doadas para transplantes são saudáveis e seguras

“As córneas doadas são captadas por equipes treinadas nos hospitais ou centros médicos após a autorização da família do doador”, explica Trindade.Segundo ele, elas vão para o banco de olhos onde são processadas, preservadas e analisadas criteriosamente para assegurar a qualidade. Somente após a liberação do tecido com qualidade garantida e sorologia negativa (pesquisa do sangue do doador paradetectar doenças potencialmente transmissíveis), o tecido é ofertado para ser usado em cirurgia de transplante. A córnea pode ser utilizada até duas semanas após a doação.

 

6.    O transplante não é o único procedimento para corrigir deformações na córnea

Aguardar a doação de córnea pode ser um processo demorado. Entretanto, atualmente temos disponíveis novos aparatos tecnológicos para corrigir falhas na córnea. “O filtro estenopeico, por exemplo, é uma peça de acrílico capaz de filtrar a entrada de luz no olho e corrigir falhas na córnea, melhorando a visão de pacientes com doenças como ceratocone ou astigmatismo corneano irregular”, indica Trindade. Tal dispositivo, segundo ele, deve ser implantado no olho em um procedimento cirúrgico mais simples e seguro.

 

Sobre Bruno Trindade                      

Bruno Lovaglio Cançado Trindade é oftalmologista, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, e doutor em Oftalmologia pela mesma instituição. Trindade possui três subespecializações em córnea e cirurgia refrativa: pelo Hospital São Geraldo da UFMG, pelo Massachussets Eyeand Ear Infirmary – Harvard Medical School em Boston nos EUA e pelo Royal Victorian Eyeand Ear Hospital em Melbourne Austrália. Atualmente é professor de Oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas de MG e chefe do Departamento de Córnea do Instituto de Olhos Ciências Médicas da FELUMA.

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