conselhos dos amigos

Conselhos de amigos e psicoterapia

Quando passamos por algum tipo de problema, seja este familiar, profissional, pessoal ou outro qualquer a tendência é compartilhar com alguém que se tenha confiança e simpatia e esperar que este ajude oferecendo alternativas de resolução do nosso conflito.

No entanto, ao procurar no outro as respostas que tanto deseja, corre-se o risco de desperdiçar a oportunidade de desenvolver diante dos próprios impasses.

[…] Que procuras? –Tudo. Que desejas? –Nada.
Viajo sozinha com meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão […]
Cecília Meireles

amigos

Quem nunca compartilhou alguma vivência ou situação com algum amigo (a), namorado (a) ou familiar e no final teve aquela sensação de que se tivesse ficado calado seria melhor?

Sim, muitas vezes ao se expor para alguém que confiamos e gostamos, esperamos que este traga a varinha mágica para resolver nossos problemas, contudo, automaticamente após relatar o “caso”, percebemos que não adiantou nada, pelo contrário, saímos mais confusos e mais angustiados. E saímos assim, porque criamos expectativas demais.

E pensar sobre a expectativa requer ponderação, pois se a temos em demasia sofremos, e se a temos em escassez perdemos a capacidade de sonhar. Gosto muito do filósofo Aristóteles (384 a. C)  e sua ideia do “caminho do meio”.

Esse pensamento do “caminho no meio” foi consagrado no livro Ética a Nicômaco (1985), neste Aristóteles condena os extremos, segundo ele quando fazemos algo em demasia, consequentemente excedemos e assim despertamos os vícios. Assim, concluiu que o “caminho do meio”, ou seja, o equilíbrio era a condição fundamental para atingir a felicidade maior.

Não estou propondo aqui que você deixe de contar suas historias experiências, problemas ou vontades a quem goste ou confie, pelo contrário, acredito ser muito prazeroso compartilhar todas essas vivencias com quem gostamos. O importante é refletir um pouco mais sobre a questão da expectativa. É pensar um pouco mais nos excessos que se comete ao “despejar” sobre o outro tudo aquilo que te angustia e esperar que este resolva o conflito.

É comum que aquele que te escuta, procure aliviar sua tensão dando conselhos, assim, ele dirá o que fazer e isso momentaneamente trará algum alívio, mas passado algum tempo a angústia retorna.

E por que isso acontece? Por que quando seu amigo te aconselha, ele faz isso a partir do ponto de vista e experiência dele e não seu. E aquilo que serviu para ele, pode não servir para você, simples assim. Por isso que existe uma enorme diferença entre conselhos de amigos e psicoterapia.

A psicoterapia é um processo, onde o psicólogo dispõe de “ferramentas” adequadas para lidar com aquilo que você traz para a sessão, ele não dirá o que você deve fazer, pelo contrário, ele tem por objetivo estimular sua autonomia, fazer com que você, cada vez mais consiga entender e lidar com seus conflitos, buscando soluções e ampliando suas alternativas para lidar com aquilo que o angustia.

O psicólogo fará intervenções com o intuito de fazer com que você encontre em si mesmo as respostas que às vezes você procura no outro e não encontra. Ele é um profissional que tem uma bagagem técnica o suficiente para interpretar seus problemas, respeitando sua individualidade, experiência e contexto particular.

Para Carl Rogers (um dos mais proeminentes psicólogos que revolucionou a psicoterapia em todos os lugares do mundo onde ela é praticada), toda pessoa é uma ilha, no sentido muito concreto do termo; a pessoa só pode construir uma ponte para se comunicar com as outras ilhas se primeiramente se dispuser a ser ela mesma e se lhe for permitido ser ela mesma.

Portanto, o psicólogo tem como objetivo ajudar você a descobrir suas potencialidades, o que deseja para sua vida, sem lhe dizer o que fazer ou aonde ir, respeitando sua liberdade de escolha, pois você enquanto pessoa tem a responsabilidade existencial de confrontar-se consigo, pois você é proprietário de sua própria dignidade.

Referência Bibliográfica:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 2.ed. Editora Universidade de Brasília. 1985

Lingia Menezes de Araújo
Psicóloga Clínica
Tel.: (31) 3150 -9950 / 9576-9032 / 8671-1127
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OBS.: Todo o conteúdo desta e de outras publicações tem função informativa e não terapêutica.

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