Você tem pena de si mesmo?

Já conheceu alguém que conta sua própria história como se estivesse tendo pena de si mesmo? Seria uma espécie de valorização do próprio “passe” junto ao interlocutor?

Ou alguém que verdadeiramente passou a vida inteira acreditando nisso e se vitimando?

Há juízos construídos lá atrás que carregamos como verdades incontestes e que, no fundo, encobrem nossa incompetência de sermos auto responsáveis pelas escolhas e direcionamentos que damos à nossa jornada.

Relatamos para o outro, de forma recorrente, as nossas mazelas, dificuldades, situações de abandono, de dor e de injustiças como se elas justificassem a nossa inércia diante da necessidade de ação depois de momentos sombrios da vida – que, convenhamos, fazem parte da dinâmica de estar vivo.

Obviamente, cada caso é um caso. E o que nos diferencia um dos outros, ao meu entender, não é o que ocorre de ruim conosco ao longo da vida, mas a nossa capacidade de ressignificação e de atitude para reverter o que parecia não ter saída. Para isso, acredito, nos foram dadas as virtudes da razão e da emoção. Cabe a nós buscar o ponto de equilíbrio entre elas.

Aliás, grande parte de nós já viveu momentos de sombra e de caos, onde a vista parecia turva frente a obstáculos, até então, intransponíveis. Já nos sentimos frágeis; e até sucumbimos. O importante, no entanto, é não nos estacionarmos neste recorte de vida, como se não houvesse a possibilidade de um amanhã mais leve e menos doloroso.

Virou “modinha” falar em auto responsabilização e em empoderamento. As músicas, as novelas, os filmes, os livros, as séries e até a imprensa têm retratado esta temática com certa frequência. A boa notícia é que grande parte das mudanças está ao nosso alcance, como num quebra cabeça em que passamos horas testando e entendendo o encaixe das peças até atingirmos o objetivo final, que é ver a imagem do todo, antes desconexa, com sentido e nitidez. Assim é a vida. Há um tempo de processamento, de ganhar fôlego. Mas a estrada está lá, no esperando para seguirmos o percurso, que –  é bom que se diga – pode ter novas oscilações e dificuldades, assim como pode descortinar lindas paisagens e experiências memoráveis.

No frigir dos ovos, as respostas para absolutamente tudo estão dentro da gente mesmo. Mas é preciso coragem para se indagar por que é mais fácil continuar contando a mesma história e se manter inerte diante da pressão pela mudança? Por que não me sinto apto e forte o suficiente para virar o jogo? Como anda a minha fé e o meu entendimento acerca das questões sobre as quais eu não tenho controle? Qual o meu movimento de deixar ir para deixar vir? Do que estou disposto a abrir mão, neste momento? O que eu ganho sendo assim? Até quando vou continuar mentindo para mim mesmo, que não dou conta de mudar ou avançar?

As questões são quase infinitas porque o ser humano é, de fato, complexo. Contudo, a nossa complexidade não pode engessar nossa esperança, nossa intenção e nosso movimento de reforma íntima.

Afinal, tem mais sentido quando pagamos o preço por sermos mais coerentes e mais profundos em relação àquilo que, verdadeiramente, faz nossos olhos brilharem com mais viço, transparência e completude.

Texto de Flávio Resende, Jornalista, empresário e coach ontológico.

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