O Poder de Cooperar

por Jill Sawers

“Independência!? Isso é blasfêmia da classe média. Cada um de nós, almas na Terra, somos todos dependentes uns dos outros.” – George Bernard Shaw

É dito que a perfeita parceria não acontece quando duas pessoas estão olhando nos olhos uma da outra, mas sim quando as duas pessoas estão lado a lado olhando para a mesma direção. Isto sugere que os relacionamentos não existem meramente para o bem próprio dessas pessoas, unicamente para mantê-las envolvidas e felizes; mas existem, sim, para um propósito maior. A sinergia criada por esta cooperação contribui para um bem maior, algo que simplesmente não seria possível de forma individual. Quando as coisas ficam difíceis em qualquer relacionamento, seja entre o casal, família ou grupo, reconhecer nosso propósito maior para estarmos juntos pode nos ajudar a superar diferenças insignificantes. Como tudo na natureza, nós, seres humanos, também existimos em um círculo de vida. Como diz o ditado: “Nenhum homem é uma ilha”.

Cooperação é a forma natural do mundo. Tudo na natureza contribui para a sobrevivência do outro. Através do “doar”, o ciclo é mantido em movimento e, em retorno, há a recompensa de seu próprio crescimento. A “natureza” da natureza é servir sem expectativas, movendo-se com a invisível vontade das estações, do sol e da lua.

Somos impelidos pelo nosso eu interior, movidos por mãos invisíveis para se juntar ao ciclo da vida – para doar, envolver, compartilhar, servir, contribuir, cooperar – para que possamos também crescer e florescer. Mas, ao contrário da natureza, temos o ego e uma mente individualista. Ao contrário da natureza, podemos criar estórias e sentidos egocêntricos sobre o que está acontecendo; estórias como: “Eu sempre dou e nunca recebo”. “Ninguém aprecia o quanto eu faço”. “Deixe-me parar de dar e eles verão quanto sentirão minha falta!” Vocês conseguem imaginar uma árvore, flor, vegetal, planta ou um animal entregando-se a tal autopiedade?

Os Pinguims da espécie “Imperadores da Antártica” são um exemplo perfeito de cooperação. As mães deixam os ovos com os pais e partem por meses em busca de comida. Os pais se agrupam para se protegerem do mais terrível inverno do planeta, revezando-se entre eles fora do ciclo. No início da primavera as mães retornam com comida. Estou certa que em nenhum momento durante este cenário penoso os pais queixam-se sobre as mulheres estarem fora desfrutando de um banquete de peixes enquanto eles sofrem no iceberg. Estou certoa que as mulheres não se queixam sobre o trabalho duro de capturar peixes. E, estou certa também que eles não olham para seus pequenos filhotes e perguntam: “Será que valeu a pena enfrentar a dificuldade?” Os animais sentem dor e também respondem à energia, ao amor e à paz, mas eles não sofrem da mesma maneira que sofremos porque eles não têm ego. Eles não pensam em si mesmos como seres separados, ou mais especiais ou mais dignos que os outros. Eles podem competir entre si por comida ou por parceiros sexuais, mas este comportamento é instintivo e não o resultado do processo de um pensamento. Assim, o macho que perde a luta e, portanto, a chance de procriar na temporada, não sofrerá de baixa autoestima ou sentimentos de desesperança ou frustração. A natureza não desperdiça sua energia.

Nós, entretanto, complicamos todo o processo com a estória do “EU”. Como tudo na natureza, nossa natureza verdadeira é cooperar para poder fazer parte de algo maior do que nós mesmos. Muitas pessoas mencionam o trabalho em equipe ou algum projeto o qual contribuíram como sendo um dos maiores destaques de suas vidas. Em tempos de crise e desastre, confrontados com as necessidades urgentes dos outros, as pessoas se esquecem de si mesmas. Elas experimentam alegria e vivacidade no esquecimento. Contudo, como Chekov disse, “Qualquer idiota pode lidar com uma crise. É o dia a dia que o sabota”.

É no dia a dia que esquecemos a alegria de dar e amar sem egoísmo e começamos a questionar se estamos recebendo o suficiente: “Será que recebi respeito, atenção, prêmios e recompensas, amor, dinheiro, posição, privilégio e reconhecimento?” Se não for o “suficiente”, meu ego vai me dizer que não vale a pena fazer aquilo. O simples pensamento “ninguém reparou em mim” pode causar tal dor no ego, de forma que o ego então ordena “para que eu pare de cooperar”, como uma forma de punição para aqueles que não me valorizaram. Eu não percebo no momento que, ao suprimir o meu amor, recursos, tempo, talento, eu então me torno a pessoa que mais perde. Se você não os usa, você os perde. E, se você não doa, você simplesmente também não recebe.

A fim de ser cooperativo, precisamos ser verdadeiramente humildes. Aprendemos a falsa humildade para nos tornarmos bem socializados. Quando somos elogiados por algo, simplesmente respondemos: “Oh, não foi nada. Eu não poderia ter feito isso sem a sua ajuda”. Mas, internamente, uma corrida de adrenalina e as bochechas coradas denunciam a verdade: “Sim, não é que de fato eu fiz muito bem!?” A verdadeira humildade vem de um profundo reconhecimento da interconexão de tudo; que cada momento da minha existência é suportado por infinitos fatores. Enquanto escrevo estas palavras agora, incorporada neste momento, estão implícitas milhares de pessoas que me ensinaram e me nutriram.

A cadeira a qual estou sentada, o computador que uso, a iluminação da sala,… tudo foi oferecido através da cooperação de muitos. Até mesmo o ar que respiro, a comida que alimenta minhas células, o sangue que é bombeado até o meu cérebro, tudo isso depende da vontade biológica. E pensar que tudo isso acontece absolutamente sem sequer um “obrigada” da minha parte! Ainda assim, mesmo com o meu pequeno papel neste grande quadro, eu exijo ser reconhecida. Esta necessidade para a minha pequena gota, de ser reconhecida, como sendo distinta e até mais merecedora do que o próprio oceano do qual ela faz parte, na verdade, leva-me para fora do fluxo da vida.

Ao verdadeiramente me incluir como parte do grande quadro, este grande quadro irá me incluir também. Quando eu deixar de lutar somente pela realização de meus desejos pessoais limitados; quando eu pedir com sinceridade “para ser um instrumento para a paz”, abro-me então para a cooperação de poderes elevados. Deus, o Universo, a Providência – seja qual for a palavra que utilizarmos – estará lá quando eu aquietar a voz do ego e descobrir a mais simples e humilde felicidade.

George Bernand Shaw coloca isso maravilhosamente bem: “Esta é a verdadeira alegria da vida, quando o ser é usado para um propósito reconhecido por você mesmo como sendo algo poderoso, tornando-se uma força na natureza ao invés de um coágulo de doenças e ressentimentos reclamando que o mundo não se dedica a fazer você feliz. Eu sou da opinião de que minha vida pertence à comunidade e, enquanto eu viver, é o meu privilégio fazer tudo o que eu possa em relação a ela”.

Esta consciência de interconexão de tudo, especialmente sobre o nível de pensamentos, é conhecida como “A Mente do Universo” – uma teoria apresentada por cientistas como Rupert Sheldrake. Em termos mais simples, “A Mente do Universo” traz a ideia de que no nível de inconsciência nós não somos separados, mas ligados como uma vasta mente. Dessa forma, qualquer coisa que aconteça irá influenciar não somente a uma pessoa, mas o todo.

Muitas pessoas já ouviram falar sobre o fenômeno do centésimo macaco em uma ilha. A eles foram oferecidos batatas que, tão logo um grupo começou a lavá-las com água, os outros macacos passaram a copiar a mesma ideia. Quanto mais uma ação é executada, mais os outros irão sintonizar esta ação como sendo o padrão. Isto pode ser usado para explicar muitos dos eventos inexplicáveis da natureza como, por exemplo, o porquê das tartarugas deixarem na praia seus filhotes e saberem a hora e local exatos para voltarem e colocarem seus ovos quando estiverem maduros. Este é o mesmo fenômeno que pode explicar por que os cientistas em diferentes partes do mundo, completamente inconscientes do trabalho um do outro, fazem as mesmas descobertas, conclusões ou invenções aproximadamente na mesma época.

A implicação para nós, no nível do cotidiano, é que nada do que fazemos, mesmo isoladamente, é realmente um evento isolado. Tudo afeta o todo. Qualquer ação executada repetidamente forma um hábito na mente do universo tornando mais fácil para os outros se moverem nessa direção. Não percebemos que os pensamentos que estamos tendo estão sendo indiretamente influenciados por milhões de outros, ao mesmo tempo em que nós mesmos também estamos influenciando milhões de outros.

Isto significa que, quando nos colocamos diante da geladeira tentando decidir entre satisfazer nosso paladar ou prezar pela nossa saúde, estamos decidindo pelo mundo. Nossa derrota e vitória, em termos de viver nossa verdade, indiretamente fortalece ou enfraquece os outros a fazerem o mesmo. Do meu ponto de vista, este efeito parece ser mais poderoso sobre as pessoas que estão diretamente ligadas a nós.

Quando acontece uma mudança em nossa consciência, parece que todos à nossa volta seguem a mesma mudança. Não se sabe “quem afeta quem” primeiro mas, em termos de cooperação, isso tem uma profunda implicação. Cooperação não significa simplesmente cumprir seu papel no grupo, em algum projeto ou na família. Cooperação é um momento para o outro, empenhando-se para ser e fazer o seu melhor, sabendo que este já é o maior gesto de misericórdia e caridade que você pode fazer para os seus semelhantes.

Em seu livro sobre uma fictícia comunidade espiritual no Peru, “A Profecia Celestina”, o autor descreve como eram realizadas as reuniões. Enquanto cada membro falava, o resto do grupo concentrava-se em enviar energia positiva para aquela pessoa. Eles entendiam que esta energia contribuía para que o orador se mantivesse mais centrado, de modo que tudo o que era dito pudesse ser considerado da mais alta verdade e, portanto, naturalmente em harmonia com as necessidades do todo. Compare isto com aquelas reuniões onde todos estão presos em suas próprias ideias, defendendo e atacando as ideias dos outros.

Em certo nível, o ego pode não gostar da ideia da cooperação, uma vez que isto poderá implicar na renúncia de seus próprios desejos. Mas, se conseguirmos gentilmente direcionar nossa consciência para diminuir o nível de vibrações da mente – as análises do ego e do julgamento – para o nível de nossa sabedoria inata e, ainda mais, com o nível de quietude além das palavras e ideias de “seu” e da “ minha mente”, poderemos então concluir que a cooperação não se trata de perder. Pelo contrário, trata-se de ganhar acesso à imensidão do nosso próprio ser e da complexidade divina deste universo o qual fazemos parte.

Do site Brahma Kumaris

Veja também: Responsabilidade Mútua

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